domingo, 14 de fevereiro de 2016

Em passagem pelo Brasil, Tim Burton falou sobre a carreira e a vida pessoal

Em sua estadia pelo país, o cineasta falou sobre a exposição, a carreira e depoimentos pessoais à imprensa. Burton contou que nunca foi um bom desenhista quando trabalhou para os estúdios Disney, ainda jovem."As raposas que eu desenhava pareciam ter sido atropeladas por um carro", diz o diretor à Folha de S.Paulo. "Eles gritam 'venha', depois berram 'vá'. Então eu entro e saio." sobre como é sua relação com a Disney.

Ele afirma ter gostado da montagem brasileira da exposição, que traz algumas inovações desde sua primeira edição, em 2009, no Museu de Arte Moderna de Nova York. Uma delas é um escorregador para os visitantes descerem de um piso a outro. "Se a proposta é que a exposição seja algo como entrar na minha cabeça, deu certo. Porque criaram um lugar em que eu gosto de estar." A mostra passa por sentimentos como terror, alegria, felicidade, melancolia. "É isso que nos faz humanos, não é?", ele diz. Me sinto como um fantasma que olha para toda a sua vida, o que é um pouco estranho, mas a apresentação é tão bela que me sinto feliz. É como uma casa de diversões bizarra! Sinto-me mais confortável do que se fossem apenas quadros pendurados na parede”, elogia. “A maior parte daqueles objetos nunca foram feitos para serem vistos... Mas são parte de um processo criativo. Minha maior recompensa foi ver pessoas se inspirando para desenhar a criar, mesmo sem se considerarem grandes artistas”. 
Questionado sobre qual emoção definiria sua vida naquele momento, já que o foco da exposição eram os sentimentos, ele respondeu “medo”, mas logo desconversou.

Sobre uma das mais curiosas partes da mostra, que é a grande coleção de desenhos em guardanapos de papel, ele teoriza. "Quando era jovem, desenhava em qualquer lugar, no shopping. Mas depois preferi ter mais privacidade. Então num bar, escuro, com pouca gente, é bom para desenhar. Mas é um sinal de que eu passo muito tempo em bares, não?", brinca. "Não gosto de me sentir exposto."

Burton chama a sala dedicada a seus projetos que não foram desenvolvidos, outra novidade na versão brasileira, de "a mais triste de todas". Mas admite que não planeja seus trabalhos com antecedência.
"Não me lembrava de parte dessas peças. Mas é tudo muito pessoal. E, por isso, o início da exposição, em Nova York, tenha sido tão aterrorizante.Começo a desenhar sem saber se vai sair dali um personagem novo."

Com alguns filmes em preto e branco no currículo, ele ri diante da pergunta do repórter sobre se ele sonha em preto e branco ou em cores. "Sonho muito com cães. E esses cães aparecem sempre em preto e branco, é uma verdade."
Diretor de refilmagens, Burton acha que trabalhar com algo que já existe, como um filme antigo ou um livro, é seu maior desafio. "Todos têm sua visão preconcebida da história, e dificilmente vai ser parecida com a minha", diz.

"Certa vez, um dos meus vizinhos chamou a polícia, porque achou que eu era um assassino perambulando pela vizinhança, mas sempre me vi como esse cientista louco. Amo Frankenstein e coisas assim. Acho que, por isso, gosto de fazer filmes em stop motion, porque é algo meio digno de um cientista maluco, mesmo, algo que não existe mais, mas você segue ali, montando quadro por quadro, para fazer as coisas se moverem na tela." conta sobre sua infância em Burbank. "De alguma forma, esses filmes nunca me assustaram. O que me assustava, quando criança, era a vida real. Era ir para a escola, meus pais, meus parentes. Isso, para mim, era aterrorizante." Além de Ray Harryhausen, pioneiro na técnica, está entre suas referências, o trabalho de Zé do Caixão (Coffin Joe) "Não assisto a seus filmes há muito tempo, mas já assisti muitos. Assisto a vários desses filmes estranhos. Não gosto daqueles filmes que as pessoas consideram ótimos. Gosto de trash, como esses que eu faço." É um fã assumido de filmes de terror, embora não se veja fazendo um. "É, não sei se conseguiria fazer um filme de terror" 

Sobre uma possível continuação de 'Beetlejuice', o diretor respondeu “Ele é um personagem que eu amo muito e é uma daquelas coisas que, se parecer certo, eu farei. Mas, se for para ser feito, terá que ser feito direito”.

Sobre a falta de artistas negros representados no Oscar, o cineasta rebate "O Oscar não é um prêmio que engloba a todos. Isso tudo...não é grande coisa. Eu odeio o prêmio. Odeio essas premiações. Os negros deveriam ficar felizes, porque assim não precisam ir para aquela merda"

Sobre a desigualdade salarial entre homens e mulheres em Hollywood, o diretor acredita que isso deveria ser algo simples. "Não tenho respostas para isso, porque, para mim, isso não faz sentido. Não penso desta forma, não deveria haver nenhum problema (para se pagar igualitariamente). É um dos mistérios da vida... Todos deveriam ser pagos igualmente, eu acho. Por que não seriam? É ridículo". 

"Me sinto mais confortável aqui no Brasil do que no meu país. Aqui, as pessoas se expressam mais. Me sinto em casa. E olha que só estou há 2 dias", revelou o diretor sobre os dias que passou aqui. “O Brasil tem uma cultura tão artística, me surpreendi o tempo todo. Em Burbank, de onde venho, a cultura é muito mais rígida... Eu tive sorte de conseguir me expressar, de desenhar, mas, aqui, todas as pessoas conseguem se expressar. Ver um povo tão aberto e criativo é algo que significa muito para mim”. O cineasta também atendeu um grupo de jovens na praia de Ipanema, com fotos e pagou uma rodada de mate para eles e passou parte da tarde por ali, entre mergulhos e degustação de clássicos da gastronomia das areias do Rio, como queijo coalho, empada praiana e açaí. Na saída da praia, com a dificuldade para conseguir um táxi por causa dos blocos de Carnaval na zona sul da cidade, Tim não se importou e, pegou um ônibus para voltar ao hotel. Na manhã da quarta-feira (10), o diretor foi conhecer a favela da Rocinha. O almoço custou R$ 12 e foi em uma comunidade.

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