sábado, 28 de julho de 2012

Tim Burton fala sobre 'Frankenweenie' na Comic-Con


Tim Burton considera “Frankenweenie 3D”, algo especial em sua filmografia. Ele repetiu a palavra “especial” diversas vezes, durante o painel da Disney na Comic-Con e também no encontro com jornalistas que se seguiu à apresentação, após exbir alguns trechos da obra em stop-motion.

A animação registrada em 3D e em preto e branco, é baseada num curta de mesmo nome que ele criou para a própria Disney em 1984. “Foi o meu primeiro curta, na época nem sabia trabalhar direito”, brincou o cineasta para o auditório de 7 mil pessoas.

Ele diz ter mantido a história original intacta. A tocante história de amor de Victor por seu cãozinho de estimação, que, como toda criança, gostaria que ele voltasse à vida após um tragédia fatal. Mas a partir disso acrescentou personagens e temas que não existem no enredo original. O ambiente escolar é a principal novidade. “O projeto original, de 1984, era como ‘Pinóquio’, com poucos personagens. Agora pude colocar mais crianças, monstros e professores. Trata-se de uma versão mais pura para mim”, explicou o cineasta.


Sua ligação com o projeto é tão intensa, que ele confessa ter se emocionado com sua realização. “Quando o vejo tenho vontade de chorar por diferentes razões”, assumiu.

A forte carga emocional pode estar relacionada à lembrança do trabalho original e a grande reviravolta que sua vida sofreu desde então. Frankenweenie o fez ser demitido da Disney, no começo de sua carreira, pois os executivos do estúdio acharam o curta, que usava atores e um cachorro de verdade, muito macabro para as crianças. Burton era visto com desconfiança, alguém cujo gosto jamais se adequaria aos padrões da Disney. E é a mesma empresa que agora financia a transformação daquele curta num longa animado – e em preto e branco, ainda por cima!

A Disney foi além em sua relação com Burton, e transformou a Mansão Mal-Assombrada da Disney World num parque temático com os personagens de “O Estranho Mundo de Jack” (1993), o primeiro longa animado do diretor. “Foi algo realmente incrível”, ele diz, sobre a mudança. “Foi como um daqueles estranhos momentos, em que os sonhos se tornam realidade”.

 Burton já tinha se conformado em ser visto como um diretor de filmes muito sombrios. Mas os gostos mudaram, e hoje seus projetos são mais cômicos que tétricos. “Eu lembro quando estava filmando ‘Batman’, e como estava preocupado que sua trama era muito sombria. Agora, parece uma comédia suave. É ‘Batman no gelo’, sabe? E o mais interessante é que eu tive que lutar muito para conseguir chegar até aquilo, na época”, ele revela.

Mais que um ajuste de contas com seu passado, a evolução de Frankenweenie também acabou se tornando uma grande homenagem à sua infância. “Eu lembrei de algumas crianças que frequentaram a escola comigo e dos meus professores esquisitos”, Burton contou. “E também de ter crescido assistindo aqueles filmes antigos de monstros da Universal, como ‘Frankenstein’, ‘Drácula’ e ‘O Lobisomem’”, explicou, apontando a razão de insistir numa estética em preto e branco.

No encontro com a imprensa, ele assumiu ainda outras referências não tão óbvias. “O professor é Vincent Price”, revelou, após as semelhanças físicas serem notadas. “Há também um pouco de Christopher Lee ali. E eu baseei alguns personagens em Boris Karloff”, confessou. “Há algumas coisas pessoais ali, que sempre tiverem ressonância para mim, mas as referências não são necessárias para se aproveitar o filme”.


A opção por transformar o monstro de Frankenstein num cachorro também diz muito a respeito de suas experiências pessoais. “Quando você é criança, seu cachorrinho é a primeira relação pura que você experimenta. Se você tiver a sorte de ter um cãozinho que ama, esse sentimento penetrará forte em seu coração”, comentou, antes de se colocar na história.

“Eu tive esta sorte. Todos os elementos de ‘Frankenstein’ na trama são, na verdade, resquícios do meu desejo infantil, um faz de conta que eu gostaria que pudesse ter acontecido”, revela. “Eu sempre achei filmes como ‘Frankenstein’ muito emocionais, então me pareceu uma conexão natural combinar uma história para crianças e o monstro incompreendido”, completa.

Com o lançamento de Frankenweenie, previsto para outubro, Burton terá lançado três filmes em 2012 – o primeiro foi a comédia Sombras da Noite e o próximo será Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros – , todos com elementos cômicos e de terror.  Mas ele não fala ainda sobre novos projetos. “Depois deste filme, eu vou descansar um pouco. Ele é tão especial para mim, que eu quero tirar um tempo para tentar curti-lo e ajudar como puder na sua divulgação”.

Outra paixão de Burton, explorada em Frankenweenie, é a arte do stop-motion, uma das técnicas mais antigas da animação, que registra os movimentos de bonecos um fotograma por vez. Filmar em stop motion é um exercício de fotografia, aliado à inspiração artesanal. Cada segundo de movimento registrado é um frame (quadro) diferente no rolo de filme. E cada frame requer uma movimentação manual por parte dos animadores. É como juntar várias fotos do mesmo objeto, com diferentes nuances, para dar a ilusão de movimento.

“Eu amo stop-motion”, assume Burton. “Estas coisas levam muito tempo para serem produzidas. É um meio cada vez mais raro, quase uma forma de arte perdida. Mas ainda se faz muita coisa boa com ela. Há algo que é tão belo a respeito da animação artesanal. Poder ser capaz de tocar e mexer nos bonecos é algo mágico”, ele comenta. “Você chega a desejar que todos pudessem compartilhar dessa experiência, pois é muito difícil explicar sua beleza.”

Para Burton, stop-motion é mais que animação, é a forma mais pura de cinema. “A tecnologia se aprimorou, mas a técnica ainda é a mesma e remete às origens do cinema. Resume-se a um animador manipulando um boneco. Por mais que você possa realizar com a tecnologia digital hoje em dia, há algo realmente especial em voltar à simplicidade e à excitação de criar cinema de forma artesanal. É pura magia. E é uma forma de arte que vive voltando à vida, como o próprio monstro de ‘Frankenstein’, por causa disso".
 

Frankenweenie estréia dia 5 de outubro nos EUA, mas só chega ao Brasil  em 2 de novembro.

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